Estar onde todos gostariam de estar. Era onde eu sempre
estive. E odiei cada segundo em que minha vida foi aclamada adequada, bem
sucedida e invejada. Eu falava, e todos me ouviam. Mas falava o quê? A única
coisa que sei é que ouvidos sorridentes aplaudiam ao fim dos meus discursos sem
fim. Eu devia ser interessante, pensava. Escolhi a profissão correta no
vestibular. Estudei até a vida nada interessante de Oficiais Generais da
ditadura brasileira.
Eu era a ditadura da minha vida.
O que estava fazendo ali, conversando com aquelas pessoas
que tinham grandes egos moldados merdamente correta? Mas, ora, eu ganhei dinheiro.
Mas, ok, namorei os médicos que nunca cometeram o erro de renascer seus
pacientes. Ganhei tantos certificados que faltavam gavetas para guardar.
E quem me tirou dali? Do chão limpo, do banheiro que
cheirava à pinho, dos amigos que bebiam na medida durante a confraternização de
Natal? Quem me impediu de dar aquele livro da Hilda Hilst no amigo oculto da
família? Quem me salvou da vida e me jogou no limbo, me amarrou nas grades,
entupiu-me de terra e fechou o poço?
Não sei se agradeço à Deus ou ao Diabo. Eu não sou a Garota
do Fantástico. Todas as televisões ligadas domingo à noite e eu não estava lá.
Ninguém mais me via, ouvia, sentia, entendia, queria. Estava gelada como uma
serpente sem pele durante sua ressurreição.
Olho e não vejo nada além do que um fio de luz vindo da superfície.
Suficiente para iluminar o poço e a lama que batem em minhas coxas. Enfim, é o momento exato de me tornar lótus.
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