terça-feira, 10 de setembro de 2013

Matar o que não nascera. Eis a forma prática que ela encontrara para viver sem ele. Sim, porque o amor que ela tanto queria extinguir, arrancar as vísceras, lançar ao fogo as heresias da quinta de madrugada, jamais nascera. Ele nunca a amou. E o amor, ensaio realístico de uma vida almejada fora, outrossim, alucinação. Ela perdera-se no ópio da necessidade egóica de ser alguém e, encontrara nele, sujeito sapiente da sua presente ausência, realidade fastamagórica. Ele estava sem nunca estar, beijava sem salivar, comia sem pecar. Um ser admiravelmente irreal. Para ela dolorosamente humana.
Comprara facas, serrotes, barbitúricos, fuzis e até cordas. Em vão, furava o horizonte de lembranças construídas em sua mente, apenas. Diálogos absurdos jamais proferidos eram estraçalhados por tiros no ar. E o amor que ele não amara era, por fim, dissecado das entranhas dela, com raiva e compaixão.
Matar o que não nascera. Eis a forma louca que ela aprendeu para matar a sua desacompanhada paixão.

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